Baseada em fatos reais,
mas qualquer coincidência é mera semelhança!
Conheci M... em uma
rede social da internet em dois mil e alguma coisa. Garota do interior, bonita,
engraçada, dona de uma vivacidade peculiar que combinou com o meu jeito
imediatamente, apesar de mais novinha. Ela tinha em torno dos trinta e poucos e
eu já estava nos quarenta e tantos. Passamos a trocar brincadeiras no site, eu
comecei a provocá-la com poemas e logo nos identificamos. As conversas foram se
aprofundando, ficando diárias, primeiro pelo msn, depois também por celular.
Dorminhoca, quando ela acordava de manhã encontrava um monte de recados na
caixa postal com tudo que eu tinha pensado na noite, inclusive poesias de amor.
O chato é que ela estava noiva. É uma sina que me persegue, essa de ter
relacionamento com mulher comprometida. Algo que nunca me impediu, mas um dos
motivos que devo ir pro inferno.
Os papos foram esquentando
até que um dia ela veio passar uns dias em Sampa com a desculpa de visitar
familiares. Fui buscá-la no início da tarde de uma sexta feira no metrô Saúde.
Vê-la em foto era ótimo, mas quando M... surgiu nas escadas arrepiei. Que linda
era essa moça com rosto de menina. Os olhos expressivos, meigos e ao mesmo
tempo provocantes. Um sorriso meio irônico, meio sapeca. Em resumo, uma mulher apaixonante,
obra esmerada de um escultor divino. O abraço foi demorado e bem quente. Eu me
arrependi de ter prometido pra ela que não aconteceria sexo entre nós, porque o
cheiro delicioso que ela exalava me excitou profundamente. Eu tinha uma série
de atividades previstas com a Turma Braba nesses dias e levei M... em todas.
Naquela noite iríamos num show junto com vários amigos. Mas antes ela foi
conhecer a Casa do Sarau.
Tínhamos a tarde toda
pela frente e estávamos sozinhos na Casa. A simpatia de M... era mágica e eu
sentia que rolava forte sintonia comigo. O leve sotaque caipira dessa garota
cativava. Conversamos, rimos, toquei violão cantando “sou caipira Pirapora
nossa...” e rimos mais um pouco, ela fingindo braveza me dando tapinhas... Aí
aflorou o Fábio inquieto. Levantava, sentava, balançava, aproximava, resvalava.
Certo momento M... saiu da cadeira pra pegar alguma coisa na mesa e ficou de
costas, bem pertinho de mim. Aquele perfume me tomou inteiro. Não resisti e a puxei
num abraço delicioso e ela falou muito sensualmente que eu tinha prometido não
fazer aquilo, mas se entregando. No que respondi que eu era um grande
mentiroso...
Foi uma tarde intensa e
que por mim teria durado até hoje de tão boa. Transa sensível, densa e natural
como se a gente se conhecesse a vida toda. Recuperamos as energias quando chegou
a noite, então fomos com os meus amigos ao show, o que é sempre emocionante. E
depois do espetáculo teve um mini sarau em Casa. Claro que M... curtiu demais.
Pra mim eram atividades corriqueiras, mas pra ela tudo era novidade. Certo
momento ela pediu coca cola com limão e gelo, porque não agüentava
acompanhar-nos nas cervas. Aproveitei pra zoá-la um pouquinho. De madrugada levei
M... na casa dos parentes e foi fantástico acordar de manhã com uma surpresa,
porque dessa vez ela que me presenteou com uma cartinha de amor que tenho
guardada com muito carinho até hoje e que revendo me motivou a contar estas
singelas aventuras.
De tarde nos
reencontramos e até boa parte da noite rolou o Tradicional Churras Junino da
Turma Braba na Casa do Churrasco, uma das Casas Associadas à Casa do Sarau. Tudo
decorado com bandeirolas, repleto de iguarias, cervas transbordando e muito
quentão. M... não estava acostumada com aquele ritmo de agito e em um momento
insistiu em beber coca cola novamente, o que respeitei, mas não sem muitas
brincadeiras. Com M... vivi momentos maravilhosos que me deixaram muito feliz,
principalmente porque ela havia se integrado com a Turma como se fizesse parte
há anos. Nessa época eu descasara e estava novamente numa fase de não ter
compromisso. Cada vez estava com uma amiga, mas raramente as levava nos eventos
da Turma pelo antigo vínculo da Segunda Musa da Vida. Confesso que M... teria
se tornado a Terceira Musa da Vida (classificação especial superior a paixões,
namoradas ou aventuras) se o chato do noivo dela não tivesse vindo furioso pra
Sampa acabar com a nossa estória de paixão!
No início dos anos
oitenta eu escrevi a letra de uma canção chamada Pessoas, onde canto sobre um
poeta que não sabe de onde vem a dor que já não sente, mas está dentro dele e
descrevo sua agonia pela vida que não encontra ou deixa perder em passageiras,
fugazes, líricas pessoas. Pois então, M... acabou sendo mais uma dessas paixões.
Chegamos a nos ver outras vezes, continuamos por um período a manter aquele
encanto mútuo. Mas fui percebendo que ela estava tentando aos poucos se afastar
de mim. Ela tinha que manter o compromisso que estava planejado e começando a
ser estruturado. Aconteceu que ao mesmo tempo me surgiu aquela que seria a real
Terceira Musa da Vida, a minha maior e mais louca paixão. Então deixei a
inesquecível M... ir embora e ela simplesmente desapareceu. E eu não imaginava
que também com o meu novo amor a sina continuaria e depois de muitos anos de
“caso” também a veria partir. Eu já teria composto Colecionando Partidas... mas
essa é outra, muito mais longa e poderosa estória...
Fábio Roberto